Um áudio vazado, que o Sistema Arapuan de Comunicação teve acesso, mostra o que seria uma conversa entre o prefeito de Caaporã, Francisco Nazário de Oliveira, mais conhecido como Chico Nazário (União Brasil), e o então consultor financeiro e ex-secretário de Articulação Política do município, Sandro Trajano de Freitas. Ouça o áudio mais abaixo.
Em um trecho da conversa, Chico Nazário discute a demissão do controlador-geral do município, que segundo Sandro, estaria dificultando o que teria sido acertado entre os dois para o funcionamento da empresa responsável pela coleta do lixo no município.
Na última semana, um vídeo com o então candidato Chico Nazário recebendo uma grande soma de dinheiro em espécie foi vazado, às vésperas da campanha eleitoral do ano passado. A entrega teria acontecido na residência do gestor.
A denúncia foi primeiramente divulgada pelo blog Pleno Poder e acatada pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB), que determinou a instauração de uma Notícia de Fato para apurar as circunstâncias sugestivas de ilícitos eleitorais (captação e gasto ilícito de recursos – “caixa dois”) e criminais (corrupção passiva, fraude à licitação, peculato).
Entenda como funcionava o suposto esquema
Informações dão conta que o dinheiro doado para a campanha de Chico Nazário teria como contrapartida a indicação por Sandro Trajano de uma empresa para realizar a coleta de lixo na cidade.
A conversa flagrada no vídeo sugere que essa empresa repassaria ao consultor financeiro parte dos valores recebidos, como forma de compensar a doação de campanha.
“Essa minha casa ela não tem… como ela não tem muro na frente, eu fico com medo dos caras coloquem uma câmera aí na frente. E o cara sair com dinheiro?”, diz Chico Nazário, então candidato em 2024.
Contrato rescindido e nova empresa contratada sem licitação pelo dobro do valor
Logo após tomar posse, o prefeito rescindiu contratos celebrados pela antiga gestão, dentre eles um no valor de R$ 1,6 milhão e com vigência até março deste ano, que havia sido firmado com uma empresa para a coleta de resíduos sólidos no município.
O detalhe é que a nova empresa HAC Serviços Ambientais LTDA – ME foi contratada com dispensa de licitação e pelo dobro do valor, ou seja, R$ 3,2 milhões.
Nomeação de Sandro na prefeitura
Um fato que também chamou a atenção foi a nomeação do então consultor financeiro Sandro Trajano para ocupar um cargo no 1º escalão como secretário de Articulação Política da gestão de Chico Nazário.
De acordo com dados do sistema Sagres, do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PB), o salário de secretário é de R$ 9 mil por mês.
Sandro cobra saída de auxiliar da gestão
Em um determinado trecho do áudio, Sandro cobra uma atitude de Chico Nazário para demitir um auxiliar, que na conversa ele se refere como Martins, sob pena de paralisar o serviço de coleta de lixo em Caaporã.
“Se você disser a mim que você vai demitir ele, eu espero até quinta-feira, se você disser a minha agora, Sandro, ele tá fora, aí eu espero. Se você disser agora a mim, se você disser agora a mim, se você disser, se você disser, Martins está demitido, aí eu digo a você, espero até quinta-feira, eu espero um mês, eu espero até o final do ano, a gente se resolve agora, com esse cara aí, lá eu não fico, não. Hoje mesmo eu tô indo lá, parar a operação do lixo, parar tudo a operação do lixo e resolver definitivamente, então eu quero que você tome uma atitude”, disse.
Ouça o áudio:
Investigação do MPPB
O procedimento do MPPB, instaurado no último dia 17 de setembro, estipula prazo de 10 dias para que o veículo de imprensa que trouxe a reportagem entregue o vídeo utilizado, a empresa contratada sem licitação seja notificada e a prefeitura encaminhe todos os documentos relativos ao processo de contratação, o prefeito e o secretário de Articulação Política citados sejam notificados e o Cartório Eleitoral apresente a prestação de contas referente a 2024 do então candidato à prefeito da cidade.
O prazo de tramitação de uma Notícia de Fato é de 30 dias, podendo ser prorrogada uma vez, por até 90 dias. A NF é uma etapa inicial, para coleta de informações e diligências preliminares. Depois disso, a promotora de Justiça vai avaliar se existe viabilidade de instaurar um procedimento investigatório, como o Inquérito Civil.
D1 com Portal Paraíba
