Juazeiro do Norte é a cidade cearense mais endividada do País em 2025 e ocupa a 23ª colocação no ranking nacional entre os municípios brasileiros, segundo levantamento do Centro de Liderança Pública (CLP).
A cidade registrou nota 16,63 no indicador de endividamento, em uma escala em que quanto mais próximo de 100, melhor o desempenho. Ao todo, foram analisadas 418 cidades brasileiras, que juntas concentram cerca de 60,28% da população brasileira.
O estudo considera apenas municípios com mais de 80 mil habitantes, conforme a estimativa populacional de 2024 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo o levantamento, entre 2023 e 2025, Juazeiro do Norte subiu 82 colocações na lista de cidades brasileiras com maior comprometimento financeiro, alcançando a atual 23ª posição entre os 418 municípios pesquisados.
Na mesma lista, os primeiros seis lugares foram reservados a prefeituras que não enviaram os dados sobre o indicador.
O indicador Endividamento integra o pilar Sustentabilidade Fiscal, que também inclui os indicadores Despesa com Pessoal, Dependência Fiscal e Taxa de Investimento.
Cidades do Ceará mais endividadas em 2025
| Posição | Município | Índice |
| 1 | Juazeiro do Norte | 16,63 |
| 2 | Pacatuba | 19,5 |
| 3 | Iguatu | 22,64 |
| 4 | Caucaia | 23,32 |
| 5 | Fortaleza | 23,49 |
| 6 | Itapipoca | 24,15 |
| 7 | Quixeramobim | 24,77 |
| 8 | Maracanaú | 25,19 |
| 9 | Sobral | 27,56 |
| 10 | Aquiraz | 29,35 |
Cenário de Juazeiro é preocupante, mas reversível
Na visão do presidente do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon-Ce), Wandemberg Almeida, “a posição de Juazeiro do Norte no ranking reflete, sobretudo, uma combinação de crescimento acelerado das despesas correntes, rigidez orçamentária e limitações estruturais de arrecadação própria”.
O especialista aponta que a cidade exerce um papel regional estratégico e apresenta forte demanda por serviços públicos, especialmente em saúde, mobilidade e infraestrutura urbana, para atender não apenas a população local, mas também cidades vizinhas.
“Isso pressiona o orçamento e, quando não acompanhado por um aumento proporcional das receitas ou por maior eficiência fiscal, resulta em maior endividamento. A queda de posições em relação a 2023 indica que o ajuste fiscal não avançou no mesmo ritmo que em outros municípios comparáveis”Wandemberg Almeida
Presidente do Corecon-Ce
Wandemberg lembra que o endividamento elevado reduz a capacidade de investimento do município, aumenta a dependência de transferências e renegociações e compromete a flexibilidade da gestão, já que parte relevante das receitas passa a ser direcionada ao serviço da dívida.
No entanto, apesar de considerar o cenário de sustentabilidade fiscal preocupante no médio prazo, o economista defende ser uma realidade reversível.
“Juazeiro possui uma economia regionalmente dinâmica, com comércio e serviços fortes, o que indica que o problema não é ausência de base econômica, mas sim de equilíbrio entre receitas, despesas e planejamento fiscal”, reflete.
Nesse sentido, a superação desse cenário, de acordo com ele, requer um conjunto de medidas estruturais. Entre essas medidas está o fortalecimento da arrecadação própria do município, com modernização da administração tributária e combate à evasão, sem aumentar excessivamente a carga sobre o contribuinte.
Em paralelo, ainda é necessário revisar despesas, priorizando gastos mais eficientes e com maior retorno social.
“Planejamento fiscal de médio e longo prazo, transparência na gestão e melhor governança da dívida também são essenciais. Por fim, a atração de investimentos e parcerias que ampliem a base econômica local pode contribuir para gerar mais receitas e aliviar a pressão sobre as contas públicas ao longo do tempo”, salienta.
Entenda a metodologia
No Ranking de Competitividade dos Municípios do CLP, o indicador Endividamento é calculado a partir da razão entre a dívida consolidada líquida e a receita corrente líquida da administração pública municipal.
A fonte desses dados é o Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro (Siconfi).
O coordenador de Inteligência Técnica do CLP, Pedro Trippi, define a receita corrente líquida do município como o valor que “o município efetivamente dispõe em termos de receita para custear as políticas públicas e honrar os gastos”.
“Como chegamos nessa métrica? Vamos pegar as receitas correntes, como receitas tributárias e, dessas receitas, são feitas deduções, excluindo repasses obrigatórios e receitas que aquela cidade não pode usar de modo livre. A partir disso, chegamos na receita corrente líquida”, explica.
Já a dívida consolidada líquida inclui fatores de endividamento do município, como empréstimos e financiamentos que a cidade pega junto ao mercado e instituições financeiras.
Desse montante, são descontados recursos financeiros que o município pode utilizar para pagar aquela dívida, como disponibilidade de caixa e aplicações financeiras.
No caso de Juazeiro do Norte, o resultado dessa divisão foi 16,63. Segundo os critérios do estudo, quanto mais perto de 100, melhor.
Já os municípios que não disponibilizaram informações sobre o indicador receberam índice 0.
Foto: Kid Jr.
D1 com Diário do Nordeste