Bolsonaro propõe negociar com Trump para conter tarifas contra o Brasil, mas condiciona ação à devolução de passaporte e sinalização de Lula

Em uma coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (17), no Senado Federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) declarou que está disposto a atuar pessoalmente para intermediar uma solução com os Estados Unidos e tentar reverter a recente decisão do presidente norte-americano Donald Trump de elevar as tarifas de importação sobre produtos brasileiros para 50%. No entanto, Bolsonaro impôs duas condições: que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sinalize positivamente para a negociação e que a Polícia Federal devolva seu passaporte, retido por ordem judicial no âmbito das investigações em que o ex-mandatário é réu.

Se o Lula sinalizar para mim, eu sei que não é ele quem vai dar o passaporte, eu negocio com o Trump. Quem não vai conversar vai pagar um preço alto”, afirmou Bolsonaro, sugerindo que a disposição dos governos brasileiro e norte-americano ao diálogo é decisiva para evitar maiores prejuízos econômicos.

A fala do ex-presidente ocorre em meio a uma crise tarifária e diplomática entre o Brasil e os EUA, após Trump anunciar a elevação das tarifas de forma abrupta. A justificativa do presidente americano, segundo declarações públicas, é a “perseguição judicial” sofrida por Bolsonaro no Brasil, o que, de acordo com ele, compromete os princípios de estabilidade democrática e interfere nas relações bilaterais.

Bolsonaro interpretou a medida como um “aviso”, e não como uma ameaça à soberania brasileira. “Vamos supor que Trump queira anistia. É muito? A anistia é algo privativo do Parlamento”, disse, sem explicar a quem se referia ou a que tipo de acordo se referia exatamente.

Defesa de Eduardo Bolsonaro

Durante a coletiva, Bolsonaro também saiu em defesa do filho, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que atualmente se encontra nos Estados Unidos. Segundo o ex-presidente, se Eduardo retornar ao Brasil, “será preso”, embora não tenha mencionado qualquer mandado judicial ou acusação concreta contra o parlamentar.

Está lá meu filho, que tem portas abertas na Casa Branca, no Capitólio. Ele está fazendo mais do que a embaixadora, que está de férias, e mais que o ministro das Relações Exteriores, que até agora não conversou com Marco Rubio. Que política externa é essa?”, questionou Bolsonaro, em crítica direta à condução da diplomacia brasileira frente à crise com os EUA.

Elogios a Tarcísio, mas ceticismo sobre eficácia

Apesar das recentes tensões políticas entre Eduardo Bolsonaro e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o ex-presidente elogiou o esforço do aliado em tentar negociar com os norte-americanos, mas ressaltou que apenas uma tentativa isolada não seria suficiente para fazer Donald Trump recuar.

Louvo Tarcísio por tentar negociar. Mas uma pessoa só não é suficiente. Tá na cara que Trump não vai ceder”, disse Bolsonaro, demonstrando descrença na eficácia das articulações diplomáticas feitas sem seu envolvimento direto.

A declaração do ex-presidente expõe não apenas a escalada da crise comercial entre os dois países, mas também sua tentativa de retomar protagonismo político internacional mesmo com restrições judiciais, além de lançar dúvidas sobre a coesão e a eficácia da política externa atual.

Redação D1

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