Os trabalhadores dos Correios na Paraíba e em todo o país deflagraram greve às 22h desta terça-feira (16). O alerta foi feito por Tony Sérgio, secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Correios na Paraíba (SINTECT-PB) e diretor da Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios (FENTECT), durante entrevista ao programa Boca Quente, segunda parte, da Difusora Rádio Cajazeiras.
Segundo o dirigente sindical, a paralisação ocorre diante do impasse nas negociações com a empresa, que, conforme destacou, não envolve pedidos de aumento salarial ou ampliação de direitos. “Nós estamos correndo risco de fazer uma greve a partir das 22 horas do dia de hoje. Porque nós não estamos pedindo nada mais para a empresa, senão a reedição do acordo coletivo, mantendo o que já existe, com apenas a reposição da inflação”, afirmou na esntrevista.
Tony Sérgio reforçou que a reivindicação é considerada histórica pelo próprio movimento sindical. “A gente não está pedindo nem aumento de salário, nem direitos a mais. Isso é a primeira vez que acontece na história dos Correios”, disse, ressaltando que a categoria tem levado em conta a atual situação financeira da empresa. “Compreendendo a grave situação dos Correios, fizemos esse gesto.”
Pagamentos e boatos de atraso
Questionado sobre possíveis atrasos salariais ou financeiros, Tony Sérgio negou que haja pendências no momento. “Sobre atraso de pagamento, neste momento não temos nenhum problema”, garantiu. Ele esclareceu informações que circulam sobre o pagamento de 10% referente a empréstimos. “O que está faltando seria a segunda parcela, que é para ser paga até o dia 20. Não tem atraso, tem quatro dias para frente para receber”, pontuou.
O dirigente atribuiu a circulação de boatos a uma “narrativa construída há anos” contra as empresas públicas. “Esses setores mais radicais usam qualquer argumento para atacar os Correios. Isso não esclarece a população e só serve de gasolina para uma disputa que não existe”, avaliou.
Crise, empresas públicas e gestão
Durante a entrevista, Tony Sérgio reconheceu que os Correios enfrentam dificuldades, como problemas no plano de saúde dos trabalhadores e falhas pontuais no atendimento em algumas localidades. No entanto, defendeu o papel estratégico da empresa. “A empresa pública tem dois papéis: regular o mercado e atender a população sem restrição de classe, rua, cor ou local de moradia. Os Correios estão em todos os municípios. As empresas privadas não estão”, afirmou.
Ele também criticou a lógica de que empresas públicas são sempre deficitárias. “Dizer que empresa pública só dá prejuízo e que tem que privatizar é uma ideia burra”, declarou, ao argumentar que o objetivo do setor público não é apenas o lucro, mas o atendimento universal.
Críticas à gestão anterior
Tony Sérgio atribuiu parte da situação atual à gestão passada dos Correios, especialmente durante o governo Bolsonaro. “O Correio foi administrado por generais. General entende de guerra, não de serviço postal”, criticou. Ele citou o caso do general Juarez, que, segundo ele, defendia o papel estratégico da empresa, mas acabou sendo substituído. “Depois colocaram o general Floriano Peixoto, que hoje trabalha para a Magazine Luiza. Ele levou todo o segredo comercial dos Correios para um concorrente”, denunciou.
Lucros “maquiados”
Sobre os lucros registrados pelos Correios durante o governo Bolsonaro, Tony Sérgio foi enfático ao afirmar que os números não refletiam a realidade. “Foram lucros fictícios, maquiados. O governo Bolsonaro mentiu e maquiou os dados contábeis da empresa”, disse.
Segundo ele, a estratégia consistiu em adiar pagamentos obrigatórios. “Deixaram de pagar precatórios, fornecedores, aluguel de prédios e serviços. Jogaram essas dívidas para frente e apresentaram lucro na contabilidade”, explicou, comparando a situação a alguém que deixa de pagar uma dívida para aparentar saldo positivo. “Agora, quando se faz o balanço real, o prejuízo aparece.”
Ao final, Tony Sérgio reafirmou que a mobilização dos trabalhadores busca preservar os Correios como empresa pública e garantir direitos básicos da categoria. “Nós precisamos de gestores preparados e de empresas públicas fortes. É isso que está em jogo”, concluiu.
Redação D1