O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado nas metas de inflação do governo, registrou alta de 1,31% em fevereiro, a maior para o mês desde 2003, quando o aumento foi de 1,57%.
A alta forte veio depois de um alívio em janeiro, quando o IPCA subiu só 0,16% graças a uma queda de 14,21% na tarifa de energia, resultante do pagamento de um bônus da hidrelétrica de Itaipu, que reduziu a conta de luz para os consumidores. Já em fevereiro, o preço da energia elétrica subiu 16,80%, puxando a alta do resultado do mês.
- No ano, o IPCA acumula alta de 1,47%;
- Já nos últimos 12 meses, o acumulado é de 5,06%, acima do teto da meta;
- Em fevereiro de 2024, a variação foi de 0,83%.
De acordo com Fernando Gonçalves, gerente da pesquisa, se o índice não considerasse o número da energia elétrica, o resultado da inflação de fevereiro ficaria em 0,78%, o que mostra o peso que o item teve este mês.
Com isso, em 12 meses, o IPCA chegou a 5,06%, se afastando ainda mais do teto da meta de inflação, que é de 4,5%.
No mês passado, o reajuste das mensalidades escolares, que sazonalmente ocorre em fevereiro, também pesou na inflação. O grupo educação registrou alta de 4,7%. Sem considerar o impacto desse grupo no mês, o resultado do IPCA teria sido 1,10%.
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O IBGE capta no IPCA de fevereiro as altas aplicadas por escolas, creches e faculdades. Este ano, os aumentos ficaram em média na casa dos 7%. Confira abaixo:
Reajuste das mensalidades escolares
Creche | 5,28 |
Pré-escola | 7,02 |
Ensino fundamental | 7,51 |
Ensino médio | 7,27 |
Ensino superior | 4,11 |
Pós-graduação | 1,18 |
Educação de jovens e adultos | 3,08 |
Curso técnico | 1,2 |
Fonte: IBGE
Entre os produtos com maior alta no preço estão o ovo de galinha (15,39%) e o café moído (10,77%). Já entre os que tiveram quedas estão destacam-se a batata-inglesa, o arroz e o leite longa vida.
Já o preço dos alimentos, que vem sendo motivo de preocupação do governo desde o fim de 2024, subiu 0,7% e desacelerou em relação ao mês anterior, quando a alta foi de 0,96%.
“O café, com problemas na safra, está em trajetória de alta desde janeiro de 2024. Já o aumento do ovo se justifica pela alta na exportação, após problemas relacionados à gripe aviária nos Estados Unidos, e, também, pela maior demanda devido à volta às aulas. Além disso, o calor prejudica a produção, reduzindo a oferta”, explica o gerente da pesquisa.
Outro grupo que teve contribuição importante no IPCA de fevereiro foi o de transportes, que subiu 0,61% e desacelerou em relação a janeiro. Mesmo com a desaceleração, a alta da gasolina (2,78%) puxou o índice para cima, representando o segundo maior impacto individual no índice. O aumento no preço dos combustíveis aconteceu por conta do reajuste no ICMS, que também impactou o óleo diesel (4,35%) e o etanol (3,62%). Apenas o gás veicular apresentou redução.
O que dizem os analistas?
Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, ressalta que uma inflação acima de 1% é considerada alta, mas que no caso de fevereiro o número intenso foi explicado pelas questões pontuais na energia elétrica, nas mensalidades escolares e na gasolina, o que não deve se repetir nos próximos meses.
— Essas pressões que aconteceram em fevereiro tendem a desaparecer e desinflar o índice. Em março, o IPCA deve ficar em torno de 0,50%, e a gente também acredita que a alimentação vai ajudar a desacelerar.
Como leitura positiva, a economista cita que a depreciação do câmbio não está mais tendo tanto repasse para a inflação, o que ocorreu no fim do ano passado, com a sequência de altas no dólar, além do preço dos alimentos, que vinha sendo motivo de preocupação no governo, mas que, de acordo com a economista, já atingiu o pico de altas, e agora deve começar a desacelerar.
— A perspectiva é que o pico, que chegou a mais de 8% em 12 meses, vai começar devagarzinho a desacelerar e fechar em cerca de 6,5% ou 7% no ano que vem. Não vai ser uma queda muito relevante, mas vai incomodar menos. E, principalmente, esses itens que pesam no orçamento familiar, como arroz, carnes, tem uma perspectiva de variações menos elevadas mesmo.
Com isso, Angelo considera que o dado de hoje não muda sua perspectiva sobre a política monetária, já que altas na taxa de juros já vinham sendo esperadas, uma vez que a inflação já estava acima do teto da meta.
— A visão é que a inflação está muito forte e as medidas do governo podem continuar a elevando por conta de auxílios de renda ou de impulsos ficais. Mas a nossa perspectiva de Selic não muda, com a reunião de março indo para 14,25% e depois 14,75%. E aí deve começar a ter uma queda de Selic no final desse ano.
Mesmo com as pressões da política monetária, ela acredita que o IPCA deve fechar o ano em 5.6%, acima da meta.
Matheus Dias, economista do FGV Ibre não tem expectativas tão otimistas. Ele acredita que em março o índice pode ficar em torno de 1%, mas não será tão forte como em fevereiro.
— Ainda assim, ainda existem outros itens que vão continuar em uma tendência de aceleração, como o alimento in natura. Apesar de alimentos como o arroz e o feijão terem uma expectativa de safra boa, existem outros alimentos, como hortaliças, frutas e verduras, que tendem a ter uma volatilidade maior. Mas acredito que algo que pode preocupar nos próximos meses vai ser a inflação dos serviços, que vêm mostrando aceleração.
Para Dias, os alimentos devem fechar o ano com alta ainda maior que no ano passado, mas ele acredita que não será um choque como foi em 2024, já que deve haver certa desaceleração nos próximos meses.
— A gente não tem as mesmas questões que fizeram com que os alimentos subissem muito, então ter um clima mais estável favorece, não ter tantos choque do dólar também facilita. Isso tudo contribui para que a inflação de alimentos fosse mais alta e continuasse alta ainda nesse início de ano, porque existe um repasse que não chega a ser imediato, tem uma defasagem.
O economista acredita, portanto, que a inflação deve terminar o ano entre 5,5% e 6%, considerando que pode acontecer novamente um choque de incerteza com o câmbio, entre outros fatores como a condução da política fiscal.
INPC tem alta de 1,48%
Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) teve alta de 1,48% em fevereiro, após ficar estável em janeiro. Esta também foi a maior variação para fevereiro desde 2003 (1,46%) e o maior resultado desde março de 2022 (1,71%).
D1 com O Globo