Inflação tem alta de 5,35% em 12 meses até junho, e Brasil descumpre meta contínua pela primeira vez

A inflação registrou 5,35% no acumulado em 12 meses até junho, descumprindo pela primeira vez a meta contínua, e vindo acima dos 5,31% projetados pelo mercado. Na variação mensal, o índice desacelerou para 0,24%, após alta de 0,26% em maio, levemente acima da expectativa de analistas, que projetavam 0,20%.

O preço dos alimentos, que foi motivo de preocupação até o início desse ano, mas já havia começado a dar folga no mês anterior, foi um dos principais responsáveis pelo alívio em junho. No entanto, uma alta na energia elétrica impediu uma maior desaceleração no índice. Os resultados foram divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira.

No modelo de meta contínua, é considerado que a meta foi descumprida se a inflação acumulada em 12 meses ficar fora do intervalo de tolerância por seis meses seguidos. A meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo, ou seja, piso de 1,5% e teto de 4,5%.

Como a nova sistemática começou a valer em janeiro de 2025, quando a inflação em 12 meses já chegava a 4,56%, o resultado de junho marca o sexto mês consecutivo fora do limite. Com isso, será também a segunda vez que o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, terá que escrever carta para justificar o índice fora da meta.

Isso porque, até o ano passado, a meta da inflação era averiguada ao fim de cada ano-calendário. Se no resultado de dezembro o índice em 12 meses estivesse acima do limite estabelecido, o BC tinha a obrigação formal de redigir carta explicando os motivos e informando quais medidas estavam sendo tomadas. Foi o que aconteceu quando saíram os resultados do IPCA de 2024 e Gabriel Galípolo, atual presidente do BC, teve que escrever sua primeira carta.

Vilões em 12 meses

Embora o preço dos alimentos tenha caído em comparação com maio, esse grupo foi o principal vilão quando se olha o acumulado em 12 meses, com crescimento de 6,66%. Isso porque os recentes alívios ainda não foram suficientes para recuperar as fortes altas registradas no fim do ano passado e no início desde ano. Além disso, a alimentação tem impacto de 1,44 pontos percentuais no IPCA, o maior do índice.

O segundo maior impacto veio do grupo dos transportes, sobretudo por conta da gasolina, com variação acumulada de 6,60% e impacto de 0,34 p.p.

Confira abaixo a variação em 12 meses dos itens de maior impacto no índice:

Variação em 12 meses dos itens de maior impacto

ItemVariação em 12 meses (%)Impacto no índice (p.p.)
Carne23,63%0,55 p.p.
Gasolina6,60%0,34 p.p.
Café77,88%0,32 p.p.

Fonte: IPCA/IBGE

Alimentação em deflação no mês

Já na variação mensal de junho, o grupo de alimentação e bebidas registrou a primeira deflação em 10 meses, com queda 0,18%. Só a alimentação em domicílio saiu de 0,02% em maio para recuo de 0,43%. As principais quedas foram nos preços do ovo de galinha (-6,58%), do arroz (-3,23%) e das frutas (-2,22%). Já o tomate voltou a ver seu preço subir (3,25%).

— Se tirássemos os alimentos do cálculo do IPCA, a inflação do mês seria de 0,36% — explicou Fernando Gonçalves, gerente do IPCA, que atribuiu a redução de preço a uma maior oferta dos produtos.

A queda de 0,34% no preço da gasolina também ajudou a puxar o índice para baixo, com recuo de 0,42% nos combustíveis.

Já pelo lado das altas, o resultado foi influenciado principalmente pela energia elétrica residencial, que registrou aumento de 2,96%, representando o item de maior impacto individual no índice.

O aumento veio após mudança de bandeira tarifária, que era amarela até maio, e foi para vermelha, em junho. Com isso, há cobrança adicional de R$ 4,46 a cada 100kwh consumidos.

Foto: Alexandre Cassiano

D1 com O Globo

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