O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou nesta quinta-feira por telefone com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, um dia após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impor tarifa adicional de 25% à Índia, elevando a sobretaxa para 50%. Com isso, a sanção tarifária da Índia imposta aos Estados Unidos se iguala à do Brasil. Na conversa, os dois presidentes conversaram sobre as tarifas e defenderam o multilateralismo.
Segundo o governo brasileiro, a conversa durou cerca de uma hora. “Os líderes discutiram o cenário econômico internacional e a imposição de tarifas unilaterais. Brasil e Índia são, até o momento, os dois países mais afetados. Ambos reafirmaram a importância em defender o multilateralismo e a necessidade de fazer frente aos desafios da conjuntura, e explorar possibilidades de maior integração entre os dois países”, afirma a nota divulgada pelo Planalto.
Ainda de acordo com o governo brasileiro, Lula confirmou que fará uma visita de Estado à Índia no início do próximo ano. Como preparação para a visita, o vice-presidente Geraldo Alckmin irá à Índia em outubro para reunião do Mecanismo de Monitoramento de Comércio. “A delegação contará com ministros e empresários brasileiros para tratar de cooperação na área comercial, de defesa, energia, minerais críticos, saúde e inclusão digital”, afirma a nota.
O brasileiro tenta uma reação conjunta com outros países afetados pelas tarifas, como a China. Brasil, Índia e China são membros do Brics, grupo visto como antiamericano por Trump.
Lula e Modi tem boa relação diplomática. Após a cúpula do Briscs em julho, no Rio de Janeiro, o presidente brasileiro recebeu o premiê da Índia no Palácio da Alvorada para firmar acordos bilaterais.
O anúncio da sanção à Índia pelos EUA foi informado pela Casa Branca na quarta-feira, poucas horas após negociações entre os EUA e a Rússia sobre a guerra na Ucrânia não resultarem em avanços. Brasil e Índia são fundadores dos Brics, ao lado de China e Rússia. A balança comercial está atualmente a favor da Índia, que teve um superávit de US$ 45,7 bilhões com os EUA em 2024.
Há uma semana, Donald Trump havia anunciado que aplicaria uma penalidade adicional à Índia devido às compras de energia do país junto à Rússia. Em uma postagem nas redes sociais, o presidente americano disse que a Índia possui tarifas “entre as mais altas do mundo, e que impõe as barreiras comerciais não monetárias mais rigorosas e ofensivas de qualquer país”. Trump afirmou ainda que a Índia ”está alimentando a máquina de guerra ao comprar petróleo russo” e não se importa com quantas pessoas na Ucrânia estão sendo mortas.
Aliados da Ucrânia afirmaram que as compras de energia feitas por Índia, China e outros países sustentam a economia de Putin e enfraquecem a pressão sobre Moscou para encerrar uma guerra que já entra em seu quarto ano.
O presidente americano acusou o governo do primeiro-ministro Narendra Modi de se recusar a facilitar o acesso a produtos americanos e criticou sua participação no Brics.
”Constato que o governo da Índia está atualmente importando petróleo da Federação Russa, direta ou indiretamente. Assim sendo, e em conformidade com a legislação aplicável, os artigos provenientes da Índia importados para o território aduaneiro dos Estados Unidos estarão sujeitos a uma alíquota adicional ad valorem de 25%”, diz a ordem executiva assinada pelo presidente americano e divulgada pela Casa Branca.
A nova tarifa — que será somada a uma sobretaxa específica de 25% por país, prevista para entrar em vigor nesta quinta-feira, dia 7 — começara a valer dentro de 21 dias, de acordo com o decreto assinado por Trump.
D1 com O Globo