Radiotelescópio BINGO projeta Cajazeiras e região como polo internacional de ciência e astronomia, afirma professor da UFCG

Durante entrevista ao programa Sempre Alerta, da rádio Patamuté FM, nesta quarta-feira (30), o professor de Física da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), campus Cajazeiras, Caio Correia, destacou a importância científica, social e educacional do radiotelescópio BINGO, atualmente em fase de instalação entre os municípios de Aguiar e Carrapateira, no Sertão paraibano. O projeto, de alcance internacional, conta com a liderança do Brasil e a participação de instituições de países como China, Inglaterra, Coreia do Sul, França, Itália, Espanha, Alemanha e África do Sul.

Segundo o professor, a principal função do BINGO (Baryon Acoustic Oscillations from Integrated Neutral Gas Observations) será mapear a distribuição de hidrogênio frio no universo por meio de ondas de rádio. “Com esse mapeamento, conseguimos entender melhor como a matéria está distribuída no cosmos e, com isso, validar ou refutar modelos de evolução do universo”, explicou.

A estrutura do radiotelescópio impressiona: a antena principal terá 40 metros de diâmetro e ocupará uma área comparável à de um campo de futebol. A construção enfrenta desafios logísticos e de mão de obra especializada, o que levou engenheiros brasileiros a treinamentos na China, país com experiência em projetos semelhantes. Correia ressaltou com orgulho que a engenheira responsável pela obra em Aguiar é uma paraibana, natural de Carrapateira.

A escolha da Serra do Urubu como local de instalação não foi por acaso. De acordo com o professor, a região apresenta condições ideais para evitar interferências de rádio, graças ao isolamento geográfico, ao baixo tráfego aéreo e à barreira natural formada pelas serras ao redor. “Não daria para instalar esse equipamento dentro de cidades como Cajazeiras, por exemplo, onde há muitas antenas e fontes de ruído eletromagnético”, comentou.

Impacto regional e nacional

Correia destacou que o projeto já movimenta a região e está promovendo desenvolvimento científico e econômico. A expectativa é de que, com a inauguração do telescópio, haja um aumento significativo na circulação de pesquisadores e visitantes, aquecendo setores como hospedagem, alimentação e transporte. O governo estadual teve papel fundamental para garantir que a Paraíba sediasse o projeto, vencendo concorrência de países como Uruguai e da própria China.

Além disso, o professor revelou que Carrapateira será sede da futura Cidade da Astronomia, com um centro de divulgação científica, planetário e museu. “Vai precisar de gente daqui, das cidades vizinhas, para tocar o projeto no dia a dia. Isso abre oportunidades reais para a população local”, afirmou.

Participação da UFCG e extensão científica

A UFCG, especialmente o campus de Cajazeiras, tem papel ativo no projeto. Professores como Caio Correia e João Maria orientam alunos em trabalhos de conclusão de curso e projetos de extensão voltados à divulgação científica. Só em Cajazeiras, ao menos quatro estudantes já estão diretamente envolvidos. Em Campina Grande, o número é ainda maior.

Correia também coordena o projeto de extensão Sertão Astronômico, que leva telescópios e conhecimento sobre astronomia para escolas e comunidades da região. “Já visitamos diversas cidades e, nesta sexta (1º), estaremos em Santa Helena. Basta que o município disponibilize transporte, e vamos até lá mostrar o céu com nossos telescópios”, convidou. O projeto pode ser acompanhado nas redes sociais, no perfil @SertaoAstronomico, no Instagram e TikTok.

Quando o BINGO entra em operação?

Apesar de alguns atrasos logísticos, a previsão, segundo Correia, é que o BINGO comece a operar em meados de 2026. Algumas peças já estão no campus da UFCG em Cajazeiras, enquanto outras ainda vêm da China. “Não posso dar uma data exata, mas se tudo seguir como está, daqui a um ano já teremos o equipamento funcionando”, estimou.

Um marco para a ciência brasileira

O professor enfatizou que o BINGO é um projeto de ponta e que coloca o Brasil — especialmente o Sertão paraibano — no mapa da astronomia mundial. “Projetos como esse expandem nosso horizonte de conhecimento. Eles também geram efeitos colaterais positivos: despertam a curiosidade, formam mão de obra especializada e estimulam o desenvolvimento regional”, finalizou.

Quem desejar agendar ações do projeto de extensão Sertão Astronômico em escolas ou praças pode entrar em contato pelo e-mail caio.fabio@professor.ufcg.edu.br.

Ouça a entrevista na integra:

Redação D1

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