O governo federal anunciou, no início da tarde de quarta-feira (13), um pacote de R$ 30 bilhões para ajudar empresas afetadas pela tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos a produtos brasileiros. Especialistas, porém, apontam cuidados e críticas às medidas.
O pacote foi anunciado mais de um mês após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decretar as tarifas, período em que empresas e setores produtivos já registravam perdas significativas.
O programa concentra-se principalmente em pequenas e médias empresas, deixando medidas imediatas para grandes exportadores ainda indefinidas.
Especialistas ouvidos pelo R7 enxergam as medidas como passo inicial esperado, mas há sérias preocupações com o impacto fiscal e a necessidade de ampliar mercados para reduzir a dependência dos EUA após “política externa agressiva”.
‘Solução paliativa’
Para Fabio Murad, CEO da Super-ETF Educação, o pacote representa uma solução paliativa diante de problemas estruturais mais profundos:
“A MP reflete uma tentativa desesperada de enfrentar as consequências de uma política externa agressiva, mas ela é uma solução paliativa diante de problemas estruturais mais profundos. A medida, ainda que seja vista como um alívio momentâneo para setores afetados, como o agronegócio e a indústria, não resolve a fragilidade fiscal do país”.
Segundo o especialista, no ponto de vista econômico, essa ação pode até trazer algum alívio pontual, mas ela adia o enfrentamento das questões fiscais que continuam a pressionar as contas do governo.
“Em vez de buscar diversificação de receitas ou reformas estruturais, o governo opta por soluções emergenciais, que não resolvem a raiz do problema e podem até aumentar o peso da dívida pública no futuro”, alerta Murad.
Mudanças estruturais e dívidas
Assim também pensa Carlos Honorato, economista e professor da FIA Business School.
“O plano não atinge o que é preciso mudar estruturalmente no Brasil, mas o que a gente observa é que, aparentemente, não tem ninguém interessado em mudar estruturalmente o Brasil”, critica o especialista.
Ele dá exemplos do Judiciário “que gasta demais”; do Executivo, “que não se propõe a fazer um ajuste fiscal”; e do Congresso Nacional, “que se perde ali nos seus próprios benefícios, tentando trabalhar só com a política, só com a posição ideológica”.
“Não são com essas medidas que a gente vai mudar a questão estrutural. Mas o importante é que a gente não vê nenhum agente político de respeito no Brasil pautando as reformas que precisam ser feitas”, continua.
Honorato concorda que o Brasil vive uma “guerra comercial” e que, por isso, é importante olhar para os setores que estão sendo mais atingidos, como café, pesca e o setor moveleiro do sul. “Nesses setores, você tem que ter uma abordagem até de, realmente, adiar pagamento de impostos, criar condições para que essas empresas sobrevivam”, considera.
Por outro lado, os empresários devem tomar muito cuidado com as dívidas que podem ser adquiridas agora. “Quando a gente está falando em crédito: crédito é dívida. Por mais que o juro seja baixo, você dá a opção para as empresas se endividarem”, aponta.
Agora vamos olhar para a gente aqui, Lucas, que o cancelamento da reunião entre Brasil
Sucesso depende de resultados
O cientista político André César, em contraponto, afirma que o governo agiu cautelosamente, ouvindo os setores mais afetados.
“É um primeiro movimento do governo, feito com cautela e focado em quem sente mais o impacto do tarifaço. Congelar tributos, abrir linhas de crédito e direcionar compras governamentais para esses produtos são medidas inteligentes neste momento”, avalia.
O cientista ressalta, no entanto, que o sucesso dependerá de resultados concretos.
“Temos que ver se vai realmente ajudar quem está sentindo na pele. E também olhar para o impacto fiscal, porque as contas públicas estavam em situação menos piores antes dessas medidas.”
Segundo André, o Brasil também precisa acelerar a diversificação de destinos de exportação. Ele cita como exemplo a missão do Ministério da Agricultura no Japão, que tenta abrir o mercado local para a carne bovina brasileira após mais de 20 anos de negociação.
“É um movimento simbólico e estratégico, mas a instabilidade de Trump exige que o governo mantenha o radar ligado para novas sanções”, conclui.
Carlos Honorato aponta a situação como uma oportunidade de aprendizado para os empresários não dependerem do governo. “A gente está sofrendo hoje com os Estados Unidos, poderia ser com a China, poderia ser com a Europa”, lembra.
“A grande dica que a gente dá para as empresas é que elas têm que diversificar, elas têm que ter uma estratégia. As empresas têm que se posicionar com estratégias de olhar para fora, buscar novos mercados”, ensina o economista.
Vamos então ouvir a fala do presidente Lula agora 1h05 da tarde.
Alcance do pacote
A MP (Medida Provisória) assinada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prevê linhas de crédito específicas, suspensão temporária de tributos e priorização de compras governamentais de itens impactados.
Haddad afirmou que a ação é um primeiro passo e não descartou novas medidas caso os efeitos das tarifas — impostas pelo governo de Donald Trump — se agravem.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou que a prioridade é negociar, mas destacou que o país “não se submeterá a chantagens” e que buscará novos mercados se necessário.
No lançamento, o Planalto buscou transmitir coesão interna. Participaram do evento os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), além de representantes empresariais e da sociedade civil.
O professor de Economia do Ibmec Brasília João Gabriel Araújo considera que o pacote é uma resposta emergencial adequada para o momento.
“Há uma expectativa de que o Brasil possa sofrer um impacto quase imediato de uma redução de mais de 140 mil postos de trabalho. O pacote poderá diminuir esse impacto e garantir mais tempo para negociações entre os dois países”, afirma.
Ele alerta, porém, para o risco de endividamento das empresas e defende que, caso o quadro se agrave, sejam consideradas medidas mais agressivas, como subsídios diretos ou transferências de renda aos setores prejudicados.
“Será essencial que o Ministério da Fazenda elabore uma estratégia fiscal compatível com o espaço orçamentário disponível, para evitar o aumento do déficit público”, completa.
Qual foi o anúncio feito pelo governo federal em relação às tarifas impostas pelos Estados Unidos?
O governo federal anunciou um pacote de R$ 30 bilhões para ajudar empresas afetadas pela tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos a produtos brasileiros. A Medida Provisória assinada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prevê linhas de crédito específicas, suspensão temporária de tributos e priorização de compras governamentais de itens impactados.
Qual é a posição do ministro da Fazenda sobre as novas medidas?
Fernando Haddad afirmou que a ação é um primeiro passo e não descartou novas medidas caso os efeitos das tarifas, impostas pelo governo de Donald Trump, se agravem.
O que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou sobre a situação?
O presidente Lula reforçou que a prioridade é negociar, mas destacou que o país “não se submeterá a chantagens” e que buscará novos mercados se necessário.
Como os especialistas avaliam o pacote anunciado pelo governo?
Especialistas consideram as medidas como um passo inicial, mas expressam preocupações com o impacto fiscal e a necessidade de ampliar mercados para reduzir a dependência dos EUA. Fabio Murad, CEO da Super-ETF Educação, descreveu o pacote como uma solução paliativa que não resolve problemas estruturais mais profundos.
Qual é a opinião do cientista político André César sobre as ações do governo?
André César acredita que o governo agiu de forma cautelosa, ouvindo os setores mais afetados. Ele considera as medidas de congelamento de tributos, abertura de linhas de crédito e direcionamento de compras governamentais como inteligentes, mas ressalta que o sucesso dependerá de resultados concretos.
O que o professor de Economia João Gabriel Araújo disse sobre o impacto do pacote?
João Gabriel Araújo considera o pacote uma resposta emergencial adequada, destacando a expectativa de que o Brasil possa sofrer um impacto imediato na perda de mais de 140 mil postos de trabalho. Ele alerta para o risco de endividamento das empresas e defende a consideração de medidas mais agressivas, caso a situação se agrave.
Quais foram as declarações do presidente Lula sobre o foco do pacote?
Lula comentou que a política de crédito visa ajudar principalmente as pequenas empresas e destacou que o governo continuará empenhado em abrir novos mercados, afirmando que “ninguém vai ficar desamparado” devido à tarifa de Trump.
Foto: Ton Molina/Fotoarena/ Estadão Conteúdo
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